Adeus, Andes. Adeus, Lenin
Tem circulado em redes de docentes da UFBA mensagem de destacada militante do Andes na UFBA, que inicia do seguinte modo: “Apoio, intransigentemente, que a Apub retorne à base do Andes-SN, porque é uma aberração, um egoísmo sem medidas, o PROIFES, com meia dúzia de sessões (sic), deliberar em mesas com o patrão (Governo e gestores), em nome de mais de 70 sessões (sic) sindicais”. Esta mensagem é reveladora de muitos aspectos daquilo que tem sido responsável, do lado docente, pela nossa incapacidade de dar respostas ao movimento de degradação a que estamos submetidos, seja de nossa carreira, seja de nossas instituições. Me refiro a uma incapacidade de pensar, de articular universal e particular, de transitar entre abstração e concreto e, portanto, de ter mais uma experiência mais complexa do jogo entre realidade e idealidade, o que resulta em uma visão política, da política e do político, pobre, simplista, dogmática.
Simplesmente a docente hipostasia, como único ser real, um universal que ela pode chamar de seu: a base do Andes-SN. Não é egoísmo dela negar legitimidade ao que decidiu a maioria dos docentes da Apub, então representados em assembleia. Afinal, assembleia, para eles, só conta quando reafirma a presença do seu universal privado, dela, que merece o apoio dela. Qualquer ruído neste universal é ilegítimo, é traição, é sinal de egoísmo, particularismo a ser eliminado. Não existem mais UFBA, APUB, docentes da UFBA, existe o docente universal, o trabalhador universal, seja lá o que isto for, talvez uma espécie de soldado universal, ou militante universal do Andes. E pensar que Marx, que tanto fez para denunciar as ilusões ideológicas, se vivo, veria seu pensamento resultar nisso. Uma lástima.
E daí vem a segunda questão. Nós, docentes articulados em torno da Apub, desejamos a nossa carta sindical. Não desejamos ser sessão do Proifes, até porque o Proifes não conhece seções, conhece sindicatos, ou seja, no Proifes estão reunidos, na forma de Federação, sindicatos autônomos, independentes. Então o Proifes não está em questão, como não está mais em questão nossa saída, premanência, ou retorno ao Andes. Isto é pauta vencida, não somos Andes. O que está na pauta é a nossa Carta Sindical, apenas. Como a professora é defensora histórica do centralismo democrático, este oxímoro forjado pelo leninismo, para ela Federações simplesmente não existem, como não existem qualquer nuance, ambiguidade, complexidade, em um mundo que se divide entre patrões e empregados, entre capital e trabalho. Devo mesmo considerar o governo patrão? E a reitoria e sua equipe? A chefia do departamento, a direção da faculdade? A especificidade da universidade como instituição pública desaparece, como desaparece, também, a nossa responsabilidade, de cada docente, no destino da universidade. E a sociedade, ela desaparece no esquema da ilustre professora?
A professora, em seu “apoio intransigente”, da prova de baixo compromisso com a democracia. Sob um pretexto de defender uma falsa maioria, artificial no mau sentido do termo, ela ignora a maioria dos seus colegas de trabalho. Este apoio intransigente, significa apoio intransigente a qualquer ação que se coloque como obstáculo à obtenção do documento formal, que apenas reafirma nossa independência real? Veremos. Dia 22/05 temos um compromisso: pela nossa Carta Sindical.
As sucessivas derrotas do ANDES só mostram que não representam a maioria, senão gatos pingados que nada mais tem a fazer do que arrotar virtudes e falsas equivalências. Deveriam ter o mesmo entusiasmo para a vida acadêmica e o cuidado com os alunos e o ofício de docência acadêmica, como têm para ficar em luta sindical achando que estão em 1917.